A importância do Setembro Amarelo e o cuidado contínuo com a saúde mental dos cuidadores
Breve análise do impacto das ações preventivas do suicidio na afirmação da vida
O advento do mês de setembro traz consigo não apenas os primeiros sinais da primavera, mas também um chamado à reflexão e ação sobre um tema de vital importância: a saúde mental. O Setembro Amarelo, campanha anual de prevenção ao suicídio, coordenada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), visa lançar luz sobre uma questão que, por muito tempo, permaneceu obscurecida pelo estigma e pelo tabu social.
As estatísticas apresentadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2019 são alarmantes: mais de 700 mil suicídios registrados globalmente, com estimativas que sugerem que o número real possa se aproximar de um milhão, considerando os casos subnotificados. O suicídio figura como a 4ª principal causa mortis entre pessoas de 15 a 29 anos. Estes dados não são meras cifras; representam vidas interrompidas e famílias devastadas, sublinhando a urgência de ações efetivas na prevenção do suicídio e na promoção da saúde mental.
Em 2024, a campanha adota o lema “Se precisar, peça ajuda!”. Esta diretriz simples, porém poderosa, busca romper as barreiras do silêncio que frequentemente impedem indivíduos de buscar auxílio profissional. Afinal, ninguém precisa travar suas batalhas sozinho.
É imperativo reconhecer que o bem-estar psicológico não é um privilégio, mas um direito fundamental, que encontra guarida constitucional: o artigo 196 preceitua a saúde como direito de todos e dever do Estado. A Lei nº 10.216/2001 corrobora este entendimento ao estabelecer a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais, impondo ao Estado a obrigação de prover assistência e implementar políticas públicas voltadas à saúde mental.
Nesse contexto, a tutela da saúde mental dos cuidadores, sejam eles profissionais de saúde ou não, constitui um imperativo legal e ético. O princípio da dignidade da pessoa humana, consagrado no artigo 1º, III, da Constituição Federal, fundamenta o dever das instituições de saúde e do poder público de implementar programas de prevenção e tratamento de transtornos mentais.
A construção de um ambiente que previna o adoecimento mental e fomente ativamente o bem-estar psíquico é um desafio multifacetado que exige uma abordagem interdisciplinar. O ato de cuidar, tanto em contextos profissionais quanto pessoais, frequentemente resulta na negligência da própria saúde mental do cuidador. É imperativo desmistificar a busca por auxílio profissional, equiparando-a ao cuidado com a saúde física. Instituições, comunidades e a sociedade devem cultivar ambientes que valorizem e apoiem a saúde mental de todos, reconhecendo o autocuidado como um ato fundamental de valorização da vida.
Vivemos um período paradoxal, no qual a hiperconexão digital coexiste com um crescente sentimento de isolamento emocional. Neste contexto, iniciativas como o Setembro Amarelo se apresentam para fomentar uma cultura de apoio mútuo que sublinha a relevância do autocuidado, especialmente para aqueles que se dedicam ao bem-estar alheio. É fundamental que a sociedade evolua para um estado em que inquirir sobre o bem-estar do outro e oferecer assistência seja a norma, não a exceção.
A eficácia desta abordagem, contudo, não deve se limitar a períodos específicos de conscientização. O cuidado com a saúde mental precisa ser integrado como um compromisso contínuo e coletivo. Ao adotar esta postura, caminhamos em direção à construção de uma comunidade mais acolhedora, empática, saudável e humana.
Sobre Fran Muraca
Francisca Muraca é doutoranda em Ciências da Saúde na Universidade Federal de São Paulo – DDI- EPM/ UNIFESP. Além de ser advogada e contabilista, ela é apresentadora do Programa Em Frente as Feras na TV Aberta e mentora de negócios na área da saúde. Muraca também ocupa o cargo de head jurídica na Pront – Plataforma de Saúde Integrativa, diretora jurídica na MEDCONTCONSULTORIA e é fundadora da M2S Conectividade. Com experiência em Direito Médico e da Saúde, sua atuação abrange planejamento empresarial, tributário, previdenciário, direito internacional, direito médico e empreendedorismo social. Ela é conselheira fiscal na UNACCAM (União e Apoio no Combate ao Câncer de Mama), além de Diretora Administrativa no Instituto Mães Brasil e Vice Presidente no Instituto Quais de Mim Você Procura .
Fran Muraca atua como advogada dativa do Conselho Regional de Medicina de São Paulo Também é embaixadora na Divine Academie Francesa de Letras e no Clube de Mulheres de Negócios de Portugal. Instagram: @franmuracaoficial