Infertilidade masculina: Especialista alerta que preconceito é a maior barreira para a paternidade
Fatores ambientais, hábitos de vida e falta de informação contribuem para os índices de infertilidade entre os homens; saiba o que pode ser feito para reverter esse quadro
Durante muito tempo, os desafios para engravidar foram atribuídos, em sua maioria, às mulheres. No entanto, a ciência já mostrou que a infertilidade é uma condição que afeta homens e mulheres em proporções semelhantes. Estima-se que em cerca de 50% dos casos de casais inférteis, a origem do problema esteja no fator masculino. Ainda assim, o tema permanece cercado de tabus, negligência e desinformação.
Segundo o urologista Irineu Farina Neto, especialista em reprodução humana, a infertilidade masculina é, muitas vezes, ignorada ou subestimada. “Existe uma resistência cultural muito forte que impede o homem de buscar ajuda. O problema é visto como sinal de fraqueza ou ameaça à virilidade, o que é um grande equívoco. Fertilidade não tem nenhuma relação com potência ou desempenho sexual”, explica o médico.
A infertilidade masculina pode ter diversas causas, que vão desde alterações hormonais, varicocele, infecções, lesões testiculares e doenças genéticas, até fatores ambientais e comportamentais, como obesidade, tabagismo, uso de álcool, drogas, exposição a toxinas e até o estresse crônico. Em muitos casos, o estilo de vida moderno, com má alimentação, sedentarismo e noites mal dormidas, apresenta um papel importante na piora da qualidade do sêmen.
Outro ponto relevante é a idade. Embora os homens possam gerar filhos até idades mais avançadas, a fertilidade masculina também sofre impactos com o passar do tempo. A partir dos 40 anos, pode ocorrer uma queda na produção de espermatozóides e aumento das taxas de fragmentação do DNA espermático, o que afeta a capacidade de fertilização e a qualidade dos embriões.
Para Irineu Farina Neto, é urgente mudar a forma como o tema é tratado. “Precisamos ampliar o acesso à informação de qualidade e quebrar os preconceitos em torno da infertilidade masculina. É fundamental que os homens saibam que cuidar da saúde reprodutiva também é parte do cuidado com a saúde como um todo”, afirma.
O diagnóstico da infertilidade masculina é realizado por meio de exames clínicos e laboratoriais, sendo o espermograma o principal deles. O exame avalia características como a quantidade dos espermatozóides. Quando alterações são identificadas, é possível investigar causas específicas e, em muitos casos, propor tratamentos ou intervenções eficazes.
Além disso, avanços na medicina reprodutiva permitem que os casais com infertilidade masculina contem com técnicas como a fertilização in vitro, a inseminação intrauterina e a injeção intracitoplasmática de espermatozóides (ICSI), que têm trazido bons resultados mesmo em situações consideradas mais graves.
No entanto, antes de chegar às técnicas de alta complexidade, é possível investir em mudanças no estilo de vida que podem melhorar significativamente a fertilidade masculina.
Alimentação equilibrada, prática regular de atividade física, controle do peso, sono de qualidade, suspensão do tabaco, álcool e outras drogas, a redução do estresse, assim como a correção da cirurgia de varicocele, quando indicada, são atitudes que impactam diretamente na produção e na qualidade dos espermatozóides.
“O ideal é que os homens comecem a pensar em fertilidade bem antes de tentar ter filhos. Assim como as mulheres fazem acompanhamento ginecológico desde cedo, os homens também deveriam ter o hábito de consultar um urologista periodicamente. Isso não só ajuda na prevenção da infertilidade, mas também na detecção precoce de outras doenças”, orienta o especialista.
A infertilidade masculina pode não ser um diagnóstico definitivo. Com o tratamento correto, hábitos saudáveis e o suporte de profissionais qualificados, é possível recuperar a fertilidade ou, pelo menos, contar com alternativas eficazes para realizar o sonho da paternidade. O primeiro passo, no entanto, é vencer o preconceito e falar sobre o assunto com responsabilidade e empatia.
(Foto: Divulgação)