Setembro Amarelo: além dos números, a urgência de tratar doenças mentais
Campanha precisa mostrar que, por trás das estatísticas, existem doenças tratáveis e vidas que podem ser salvas com intervenção precoce
Todos os anos, o Setembro Amarelo reacende o debate sobre a prevenção ao suicídio. A cada edição da campanha, os números voltam a ganhar destaque, trazendo dados impactantes. Mas a verdadeira transformação só acontece quando a sociedade passa a enxergar o que está por trás dessas estatísticas: as doenças mentais que antecedem os casos de suicídio e que, na maioria das vezes, são tratáveis.
O que está por trás dos dados
Pesquisas da Organização Mundial da Saúde mostram que o suicídio segue como uma das principais causas de morte entre jovens e adultos em todo o mundo. Em 2021, foram registradas cerca de 727 mil mortes — o que equivale a uma vida perdida a cada 40 a 45 segundos. No Brasil, a média é de uma morte a cada 45 minutos. Mais de 90% das vítimas tinham um transtorno mental de base, muitas vezes não reconhecido ou não tratado.
A Dra. Renata Gandini Vieira, CRMSP 219304, pós-graduada em Psiquiatria na Clínica Médica e Cirúrgica pela Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein, pontua que é fundamental que a conscientização avance para além das estatísticas.
“Quando falamos em prevenção, precisamos entender que o suicídio não é um ato isolado. Ele é o resultado de uma trajetória de sofrimento marcada por doenças como depressão, transtorno bipolar, ansiedade grave e dependência química. Todas essas condições têm tratamento eficaz. O grande desafio é diagnosticar cedo e oferecer acompanhamento antes que o paciente chegue ao ponto crítico”, afirma.
A importância do diagnóstico precoce
A Dra. Renata destaca que ainda há falhas na forma como a sociedade enxerga os sinais de alerta.
“O momento em que a pessoa expressa claramente a intenção de se matar é o ápice da crise, mas os sinais costumam aparecer muito antes. Isolamento, mudanças no sono, queda no desempenho escolar ou profissional e abuso de substâncias já indicam sofrimento psíquico. Reconhecer esses sinais como manifestações de doenças que precisam de tratamento médico é a chave para evitar a progressão até um desfecho tão grave.”
Conscientização que salva
O Setembro Amarelo, portanto, deve ser visto como uma oportunidade de educar a população sobre saúde mental e não apenas como um mês de impacto emocional.
“A melhor forma de prevenir é falar de diagnóstico, tratamento e acompanhamento. As doenças que mais levam ao suicídio são tratáveis, mas para isso precisamos superar o estigma, buscar ajuda médica e criar redes de apoio que realmente funcionem. A conscientização só cumpre seu papel quando mostra caminhos de cuidado e esperança”, conclui a Dra. Renata.


